' DIMENSÕES: BDSM, MUNDO BAUNILHA E A CAMADA DOS FETICHES - DIÁRIO DE UM DOMINADOR - GLADIUS | BDSM, Fetiches e Relacionamentos

DIMENSÕES: BDSM, MUNDO BAUNILHA E A CAMADA DOS FETICHES




+++++++++++++

Texto revisado que faz parte da obra DIÁRIO DE UM DOMINADOR - CRÔNICAS - LIVRO 1, de cortesia acompanhado com as notas de atualização do autor que estão presentes apenas no livro junto dos outros textos do Blog publicados.


+++++++++++++


Dimensões:
BDSM, mundo baunilha e a camada dos fetiches

Publicado em 28/10/2010



NOTA DO AUTOR:
Este foi texto onde consolidei todo o conhecimento que tinha reunido na época, sobre o funcionamento da dinâmica das relações afetivas humanas.
Desde que foi publicado em 2010 em sua primeira versão, não foi modificado em nada no seu conceito, sendo que as revisões e atualizações (como na maioria dos textos do BLOG) são apenas no sentido de tornar mais claras as ideias nele transmitidas.
Nele descrevi como são formadas no ser humano as relações afetivas utilizando um modelo de dimensões que se materializam através de camadas.
Apesar de ser um momento em que a sexualidade pesava muito na minha visão sobre o todo, esse modelo continua válido atualmente bastando que seja estendido para a afetividade de modo que cubra as relações humanas como um todo.
Considero ainda hoje uma das melhores coisas que já escrevi, servindo como uma divisão de águas na minha estrada de Dominador e escritor, dado o salto de qualidade (o primeiro de alguns que viriam subsequentemente) que ele representou.




O PRIMEIRO CHOQUE FOI PERCEBER A EXISTÊNCIA DE OUTROS UNIVERSOS

(A INSATISFAÇÃO QUE GERA MOVIMENTO)

Coloco aqui a minha visão sobre o Universo BDSM e adjacências, desde a primeira grande conclusão sobre esse delicioso “lugar” até o que penso sobre tudo isso hoje em dia. 

O que começou como uma breve descrição sobre algumas das minhas primeiras observações e conclusões, acabou se transformando em algo bem maior. Decidi que além de viver as minhas relações afetivas nesse "lugar", começaria a migrar a minha vida profissional para o mesmo universo. 

Todas essas mudanças internas transformaram a minha visão sobre o que existia a minha volta. Eu precisava entender o que estava acontecendo e isso se tornou algo obsessivo. A maneira como enxergava as coisas já não me satisfazia e o lugar onde me encontrava não era mais o meu.




Lá no início, não imaginava o quanto era importante “ser isso” ou “ser aquilo” na vida como um todo. Já tinha resolvido bem a questão de “viver a minha natureza de forma plena” e assim foi... por muitos anos... até sentir a necessidade de procurar outros com os mesmo gostos, preferências e interesses.

Mas ao interagir com outras pessoas, percebi que as coisas não se resumiam apenas ao bom e velho “viver a própria natureza”. Existia uma certa sincronia, evidenciada em uma "consciência coletiva" que orientava um tipo de movimento que agrupava essas pessoas num mesmo canal.

Com certeza havia um "algo mais”, que estava bem diante do meu nariz, porém não conseguia enxergá-lo. Passei então, a observar tudo mais atentamente, e não só o que acontecia comigo, mas também com aqueles que estavam à minha volta. 

PASSEANDO NO PARQUE

Foi daí que extraí minhas primeiras conclusões. O Universo BDSM não era apenas um lugar, mas possuía uma fronteira clara e definida com o Mundo Baunilha (região das relações afetivas formada de sexo e aparências, onde encontramos o namoro, o noivado, o casamento e suas variantes).

E era justamente nessa fronteira, que o “São” do S.S.C. (São, Seguro e Consensual - sigla fundamental do BDSM) se relacionava à manutenção da sanidade, os dois mundos não deveriam se misturar.

 


Ao enxergar o BDSM como um lugar, o uso do termo “Parque de Diversões” como metáfora era bem adequada, pois salvo raríssimas exceções, não se mora ou sobrevive no parque. Vamos até ele em busca de diversão e relaxamento, para extravasarmos a tensão de manter nossa verdadeira natureza suprimida no Mundo Baunilha. Por outro lado, não devemos ir para fugir dos problemas ou procurar soluções para a nossa vida pessoal.

Na época, alguns não entenderam a metáfora e fui criticado por comparar o BDSM a uma brincadeira. A grande ironia era que, de certa forma, o BDSM é uma deliciosa brincadeira de adultos. Tudo muito sensorial. Mas apesar de tudo, ainda faltava alguma coisa para essa conta fechar. Olhava aquele "modelo" quase perfeito que havia criado e este não saia do “quase”. Não era tão simples assim.

UM PARQUE PEQUENO DEMAIS

A observação de cenários sempre foi uma ferramenta muito útil, mesmo assim, volta e meia era traído pela minha própria percepção. Olhava para frente, sem me valer da "visão periférica". Via apenas Baunilha x BDSM e nada além desse eixo, me interessava. Só comecei a olhar para fora, quando passei a observar pessoas se descrevendo como criaturas híbridas... habitantes de vários universos.

O primeiro exemplo foi o de um Dominador podólatra, coisa que não fazia o menor sentido para mim. Eram coisas antagônicas... pois os "Podos" que conhecia só se colocavam em atitudes subservientes “aos pés” de suas Deusas. E para mim, um Dominador existia (e ainda penso assim) para ser idolatrado e jamais para idolatrar.




Como encaixar uma atitude de idolatria (seja lá do que for) com um ser que fundamentalmente é o ídolo? Não fazia sentido, mas o moço estava lá com seu reino montado, várias posses dedicadas e tudo funcionando na mais perfeita harmonia, que satisfazia a ele e às suas parceiras.

O que eu via era tão grande, que não enxergava o todo. Acima do Mundo Baunilha não existia apenas o Universo BDSM, mas um grupo de universos (e possibilidades) com fronteiras não muito bem definidas entre si. E aí tudo se encaixou, não era um Dominador Podólatra e sim um Dominador “e” Podólatra, uma vez que a Dominação e a Podolatria ocorrem em Universos diferentes.

Indo mais fundo, descobri que várias práticas normais dentro do BDSM eram emprestadas de outros universos e que existiam de forma independente. Assim, muitos transitavam entre eles, pertencendo simultaneamente a mais de um.

Na época, acreditava que tudo era BDSM, mas esse "tudo" era dar nome a coisas que já tinham nome. Sem falar que a própria sigla BDSM já era uma tentativa de agrupar as principais áreas que formam as relações de Dominação e submissão.

Considerando que a hierarquia é o seu fundamento, em minha modesta opinião, poderia ser chamado simplesmente de Universo DS, onde aqueles que se completam dominando se relacionam com aqueles que se completam na submissão. Mas até inventarem coisa melhor, BDSM está de bom tamanho.


Esse pensamento de falar apenas em “DS” já passeava pela minha cabeça de forma incômoda, na medida em que eu já tinha essa intenção de sempre buscar falar o máximo escrevendo o mínimo.
A sigla BDSM nasce para unificar correntes de pensamento em relação à sexualidade com jogos de poder. E o que antes era apenas chamado de SM (de Sadomasoquismo) ganha um termo que muda de duas para quatro letras - letras demais.
Digo isso porque para as pessoas como eu que pensam nesse universo como fundamentado em dominação e submissão, estes dois fatores ocorrem e são necessários em sua forma pura em tudo no Universo BDSM.
Não falo de técnicas ou contextos e sim do comportamento de uma parte em relação a outra, coisa que julgo como elemento definidor que separa a sexualidade com jogos de poder de todo o resto.
Vejo que cada área dessas dimensões citadas no texto se materializa sobre um tipo específico de fundamento que a caracteriza. Como o foco nos pés da Podolatria e no comportamento de animalzinho de estimação do Pet Play, sendo estes fundamentos que fazem a diferença entre uma ou outra área da sexualidade.
Logo, quem vive no BDSM sabe que o fundamento é o fluxo de poder, a hierarquia, o controle, uma pessoa dominantes se completando por outra que se completa sendo dominada e por aí vai.
Quanto às pessoas que insistem em trazer fundamentos diferentes para descrever uma interação BDSM, o fazem normalmente para tentar criar uma realidade em que venham a se encaixar seus desvios. Até porque existem em outras áreas da sexualidade, ou seja, tentam dar nomes a coisas que já tem um nome em outro lugar.
Então, sem a pretensão de criar uma nova sigla e valendo apenas para a mais pura reflexão, via e ainda vejo a sigla BDSM grande demais, podendo ser substituída tranquilamente por uma mais simples e quem sabe mais elegante.


Conside A Podolatria foi a primeira região da sexualidade que percebi que tinha pouca coisa em comum com o BDSM, embora seja riquíssima, merecendo ser tratada como um universo completamente independente e autossuficiente.

Com saltos, sandálias, descalços e até com chinelos, “podos” idolatram pés e ponto. A “pouca coisa em comum” vem do fato de existir uma fronteira entre a Podolatria e o Universo BDSM. Uma região de contato onde aparece a relação de poder que é o maior sinal da ocorrência deste último.

Assim como existem “podos” puros, que se ajoelham apenas para ficarem mais próximos do seu objeto de desejo, existem aqueles que transitam pelo BDSM, adotando posturas de submissos e até de Dominadores (como observei depois). 

Portanto, podemos encontrar vários tipos de combinações, algumas bem pitorescas, como a submissa no BDSM, que é Deusa na Podolatria ou Lolita no Age play.

E não são apenas as pessoas que transitam entre os universos, mas também suas práticas. Duchas douradas, imobilizações e Spanking existem de forma independente e são amplamente utilizadas no BDSM, para enfatizar a distância hierárquica. Pessoalmente, gosto que idolatrem meus pés, atitude que vem diretamente da já citada Podolatria.

Fiquei muito feliz em ter chegado a estas conclusões, vendo quase todas as peças iam se encaixando perfeitamente e quanto mais a minha mente se abria, mais coisas se descortinavam e iam ficando evidente que tudo estava conectado. Felicidade essa que durou pouco, ainda faltava algo.

O QUE EXISTE ALÉM DO PARQUE

Os adultos não se divertiam no BDSM como num parque, ou seja, de forma aleatória e desorganizada. A felicidade caótica dos parques de diversão não condizia com a plenitude do Universo BDSM.

O modelo que tinha criado não funcionava mais para descrever o BDSM de forma completa. Bem como não explicava as distorções e a ocorrência de tantas pessoas “estranhas” nesse Universo, circulando de forma livre, leve e solta.




Doentes, curiosos e esquisitos dos mais variados tipos inundavam o meio, provocando lambanças e fazendo com que pessoas sérias se recolhessem indignadas. E mais, meu modelo não explicava como tudo se conectava. A resposta desta vez estava tão perto nos meus olhos, que se comportava como vento. Eu ouvia, sentia e não enxergava, mas sabia que estava lá em algum lugar.

Acompanhando o processo desde o seu início, vi que havia uma rotina, um processo genérico que servia de eixo básico e principal, para as inúmeras variantes no caminho de saída do Mundo Baunilha para além do horizonte.

E tal rotina era a de que determinadas pessoas em algum momento de sua existência, quando atingiam um certo grau intelecto-cultural, começavam a conviver com algum tipo de insatisfação em relação ao seu estágio atual de sexualidade (isso quando existia alguma sexualidade). Algo que depois, viria a observar em quase todos os aspectos de nossas vidas.

De repente, tudo ficava meio morno, meio igual e aquela rotina das “preliminares + sexo + nada” não satisfazia mais e as meias sensações só aumentam o vazio. 

Filmes, livros, fotos, histórias dos amigos e outras coisas picantes mexiam com o imaginário e aparecia uma luz no fim do túnel. Mais ainda no fim desse túnel lampejava todo um jogo de luzes da chamada Camada dos Fetiches.


O CAOS DA CAMADA DOS FETICHES


A definição de Fetiche foi aprimorada ao longo do tempo evoluindo para algo bem mais complexo. O termo que eu via antes como a descrição de apenas uma camada, é utilizado de forma mais ampla.
O que começa em sua origem descrevendo um objeto ao qual se atribui poder sobrenatural ou mágico e se presta culto ao objeto inanimado ou parte do corpo considerada como possuidora de qualidades mágicas ou eróticas, passa de forma popular a substituir o termo sem tradução “Kink Sex” que engloba em seu significado toda a sexualidade diferente do convencional.
É bem visível a existência de uma camada de contato entre as relações convencionais e todo o resto. E na falta de um termo melhor, chamá-la de camada dos fetiches facilita a visibilidade desse limiar para quem deseja cruzá-lo, mantendo esta parte deste texto válida.
Quando se segue o caminho da psicologia a definição se restringe à atração por objetos e partes do corpo e seu uso de forma sexual.
Hoje vejo essa sexualidade diferente dividida em quatro grupos: sexo com pessoas diferentes, sexo em lugares diferentes, sexo com fetiches (o da definição que se restringe a objetos) e sexo com jogos de poder.
Então, restam duas maneiras de se ler o termo fetiche, um pela via da tradução direta e outro pela sua utilização já dentro de um vocabulário que é formado principalmente de leigos que ainda se baseiam em estereótipos para definir coisas que não veem, logo não entendem.
Se penso no termo usando da sua própria origem, vejo nele a descrição de tudo no sexo que sobre quando se exclui o convencional, os lugares diferentes, as pessoas diferentes e os jogos de poder. 
Se penso em fetiche como uma tradução direta para “kink sex”, o termo descreve tudo o que existe além do sexo convencional, BDSM incluído, popular entre as pessoas não iniciadas.
A minha preferência pessoal se dá pela via da sua origem, mas me curvo diante da realidade de que já está dentro dos usos e costumes do nosso povo a sua utilização como tradução livre e direta para kink sex. 
Essa visão se alinha bem com a minha primeira e já ultrapassada visão de fetiches como uma camada, mas uma que não faz contato apenas entre o Mundo Baunilha e outros universos da sexualidade. Se existe como camada, é caótica e é onde todas as formas de relações afetivas e sexuais fazem contato e se fundem.




A verdade é que as pessoas que iniciavam o trânsito entre os universos não iam direto do Mundo Baunilha para o Universo BDSM ou qualquer outro. Elas chegavam a uma camada intermediária, entre o Mundo Baunilha e o Universo BDSM, que faltava no meu modelo.

Essa camada é o primeiro lugar encontrado logo depois que o Mundo Baunilha não oferece mais um estado de satisfação completo, sendo visto mais claramente por quem já está em busca do "algo mais" das camadas superiores do próprio Mundo Baunilha, como o casamento aberto e o Swing. É um lugar delicioso, livre, libertino, intenso e caótico.

Reinam aqui as algemas forradas de pelúcia, tapinhas que não doem, roupinhas fashion, couros, látex, corsets, botas, saltos, as fantasias de médico, enfermeira e empregadinha, entre outras coisas. 

Na Camada dos Fetiches as pessoas se soltam por completo, pois experimentam a sensação da liberdade de "poder ser o que não é" no Mundo Baunilha, além de toda a intensidade que brota disso. O caos acontece porque as pessoas chegam encenando belíssimos personagens, alguns muito bem elaborados, mas ainda trazem em si, bem arraigados, os valores do Mundo Baunilha.

É bom lembrar que falo aqui apenas de valores referentes aos relacionamentos e que as relações do Mundo Baunilha dependem (em muitos casos) de artifícios como hipocrisia, mentira e conformismo, para que se mantenham minimamente equilibradas e estáveis. Do contrário, poderiam entrar em colapso e muitas vezes entram, por não levarem em consideração a natureza mais básica dos seres humanos.

O caos é consequência direta da colisão desses valores distorcidos do Mundo Baunilha com a liberdade extrema encontrada na Camada dos Fetiches, somada à total incapacidade da pessoa em lidar com tal liberdade. Assim, os personagens são vividos intensamente e as fantasias voltam para o armário depois da festa. A Camada dos Fetiches é a película de contato entre o Mundo Baunilha e os outros universos. É o verdadeiro Parque de Diversões. Ou pelo menos, a área do Parque com os brinquedos menos radicais. 

O Universo BDSM é algo muito maior e o que faz a diferença é justamente a existência de uma ordem, que emerge deste caos da Camada dos Fetiches. É um lugar que necessita da verdade para funcionar, não cabendo aqueles “artifícios” que mantêm as relações do Mundo Baunilha em equilíbrio. É a região do Parque onde ficam as Montanhas Russas.

Uma das características fundamentais do BDSM é a existência de ordem e hierarquia. Alguém sempre está no comando. A parte que domina exerce poder sobre a parte submissa, que se entrega e confia no Dominante. A verdade é diretamente proporcional o quão puro é o néctar que se deseja extrair de tudo isso. 

Posso citar alguns exemplos, que vão deixar bem claro o modelo que proponho. A "enfermeira e o paciente" é um deles. Se os dois simulam os cuidados médicos com muita sensualidade e safadeza, é fetiche. Se ela prende seu paciente numa cama de contenção, exercendo poder e controle sobre ele, é BDSM. 

Outros bons exemplos são: a freira e o monge, a aluna e o professor, o encanador e a cliente, e por aí vai. Ou seja, transar com as roupinhas e os brinquedinhos é apenas fetiche. Se ocorrer o controle do parceiro é BDSM (onde existe hierarquia, existe BDSM).


DISTORÇÕES E VALORES

Recapitulando, cada vez que tentava ver mais longe, as respostas que encontrava apontavam para mais e mais perto.  E o final dessa busca estava mais perto do que imaginava, dentro de mim. Depois de colocar a variável dos fetiches na equação, tudo começou a fazer sentido, todos os distúrbios estavam explicados.

Enfim, descobri o motivo pelo qual tantas pessoas se machucavam no processo. Aquele festival de gente estranha que se achava BDSM, não passava de personagens da Camada dos Fetiches. Quando percebiam a existência desse universo (e adjacências), vinham na direção daqueles que de fato o vivenciavam, acreditando que seus disfarces garantiriam sua aceitação.

No entanto, agregavam-se a uma massa disforme e incoerente, que não fazia a menor ideia de como funcionavam as camadas acima do Mundo Baunilha. Pessoas que faziam o melhor que podiam com os valores advindos dele, formando algo que chamo de “Pseudo Meio BDSM” ou "Limbo". Ou seja, uma região que fica a margem de onde os verdadeiros adeptos estão.




Tais pessoas tentavam “abaunilhar” o BDSM, distorcendo a realidade de todas as maneiras, para que esta se encaixe nos seus valores antigos. Nesse momento é que ocorrem atitudes como “quero um Dominante só para mim” (Dominadores podem ter várias submissas, é verdade?) ou “faço qualquer coisa para levar ela pra cama”. 

Os “sem noção” simplesmente não entendem a coisa mais básica: que cada universo tem seus valores e, às vezes, eles diferem por completo. No caso do BDSM, este só ocorre com a existência de ordem e hierarquia. Sem isso, é algum outro tipo de relação, que já tem nome e existe em outro universo.


PARA DENTRO E PARA O ALTO

De fato, dentre todas as minhas constatações, a mais importante é a de que não existe um parque ou lugar específico para se divertir como um lugar geograficamente mensurável.

Mas o termo “universo” cabe bem para se descrever outras formas de se relacionar afetivamente, onde tudo é abstrato e com fronteiras muito tênues. Além de extensão, também ocorre uma faixa onde as características desses universos se misturam.

Esses "lugares" estão dentro de nós, das nossas cabeças e vão se materializar na medida em que de forma consciente, desejemos isso. Algumas pessoas permanecerão em universos específicos, outras em vários e existem aqueles elevados, que vão aonde desejam e vivem como querem.

Os elevados, citando o exemplo de Matrix, são os que escolhem a pílula azul, enxergando a verdade como ela é. Assim, têm o poder de transitar por onde quiserem. São aqueles que "fecharam o círculo", que voltaram ao princípio, dando o primeiro passo para a sabedoria, que é a real conclusão de que não se sabe nada. 

O termo elevado é muito bom, pois de pontos mais altos podemos enxergar além do horizonte e o que existe além do horizonte baunilha é o que a vida tem de melhor a oferecer. Do Mundo Baunilha para o que existe além é uma viagem interior única. Mais fácil para uns, mais difícil para outros, a melhor parte é tudo aquilo que acontece ao longo dessa jornada. 

Acredito que não seja um caminho com um destino específico, afinal de contas somos seres em constante mutação e evolução. No entanto, quanto mais crescemos e nos elevamos, mais horizontes surgem para serem explorados.

Até certo ponto ainda é uma brincadeira, é um parque para a maioria. Mas para alguns como eu, esse parque pode ser opção de lugar para morar e até para trabalhar.


Quando escrevi este texto, falava muito da minha natureza e da vontade de saborear de tudo que poderia ser colhido das dinâmicas dos jogos de poder, mas sem ter a menor ideia de que se chegaria a viver isso da forma como vivo hoje.
A reler este texto fiquei impressionado como este “eu” de quinze anos atrás sabia bem o que seria melhor para “nós”, pois quando mais fui vivendo, mais queria viver até culminar no estilo de vida que experimento hoje em que partes substanciais da minha vida estão dentro do BDSM.
Hoje no BDSM tenho, além das minhas relações afetivas, trabalho e um considerável círculo social específico BDSM, vivendo hoje de forma plena o que há pouco mais de uma década era pura utopia.


MASTER GLADIUS

++++++++++++++++++++




 

DIMENSÕES: BDSM, MUNDO BAUNILHA E A CAMADA DOS FETICHES DIMENSÕES: BDSM, MUNDO BAUNILHA E A CAMADA DOS FETICHES Reviewed by Gladius on janeiro 01, 2024 Rating: 5

25 comentários:

  1. Senhor GLADIUS,

    Talvez tenha sido, até o momento, o melhor texto que já li aqui. O tipo que gosto, para ser lido e relido, gerando questionamentos e um trabalho árduo da mente rs. Certamente retornarei à medida que for dissecando-o. Por hora só posso Lhe parabenizar, espetáculo de texto!!!
    Meus respeitos Senhor..

    ResponderExcluir
  2. jaque28.8.10

    Um texto que expressa o que sentimos em relação ao BDSM...Será um texto que levarei comigo, como ensinamento...Parabéns Senhor...Texto Perfeito

    Deixo meus respeitos e agradecimentos por nos presentear com esse texto lindo

    ResponderExcluir
  3. Anônimo29.8.10

    Senhor,
    Gostei muuuuuuuuito da sua reflexão!!!
    "Cada Universo tem seus próprios valores, particularidades e efeitos. O BDSM, por exemplo, ocorre com a existência de hierarquia a ordem. Sem isso é alguma outra relação que já tem nome e existe em outro Universo."
    Perfeito!!!!!!!!!
    Obrigada pelo prazer desta leitura neste domingo ensolarado.
    Saudações respeitosas.
    melissa

    ResponderExcluir
  4. Caro Gladius

    Mais um brilhante texto, a descoberta de si proprio e o melhor da vida.

    "As pessoas com quais convivemos parecem
    ser todas iguais, porém só se diferenciam
    quando encontramos nelas determinadas
    qualidades que as tornam especiais......meus parabens

    Grande Abraco

    Sir.MARTINS®

    ResponderExcluir
  5. Anônimo29.8.10

    Excelente texto. Evolução não tem fim...espero ler a atualização dele e o que vem a seguir, não sei se em anos...ou meses...O tempo em Matrix é relativo. Parabéns.

    ResponderExcluir
  6. Hummm...gostei! Adorei...

    ...até em um determinado momento eu estava ansiosa e preocupada com o andamento do texto, mas à partir de

    "E a grande conclusão foi que a questão não é mais de ser BDSM, Baunilha, isso ou aquilo. A verdade..."

    Parabéns!!! Excluiu "rótulos", deixou as pessoas caminharem naturalmente...sem fronteiras, isto é importante!!!

    (entendi direito??? Li apenas uma vez e rapidamente...adorei os gráficos!!! Lindos!!!!rs)

    Hummm....ameeeiii!!!!

    Bruma Avalon

    ResponderExcluir
  7. Começo afirmando que não acredito em verdade absoluta, para nenhum assunto aliás. Acho que existem opiniões de acordo com o ângulo em que estamos, e por isso sempre descobrimos coisas novas e muitas vezes até mudamos a forma de pensar, pois estamos em constante movimento, ou seja, observando por outros ângulos! Baseada nisso, posso dizer que vc ocupa uma posição privilegiada para falar sobre BDSM! Parabéns, a importância do texto reflete nos comentários daqueles que puderam ler.
    Só quem passeia pelo parque e experimenta a roda gigante e o carrosel (pq não?) pode voltar a montanha russa sabendo exatamente qual é seu lugar e o que dá mesmo tesão, pra seguir em frente! Estou nessa fase, e espero poder um dia definir meu brinquedo favorito..rs.
    Max, impossível ler esse texto apenas uma vez e formar uma opinião sobre um assunto tão cheio de detalhes. Confesso que li, reli e vou voltar quantas vezes precisar para desvendar cada entrelinha, de cada trecho. Parei nesse papo de fetiche, e atualmente acho que é a busca pelo 'algo mais' para quem ainda não sentiu o BDSM na pele(literalmente). Para quem está nessa fase (fetiche) e anda achando as coisas tão (ou mais) mornas que o baunilha...talvez seja hora de experimentar um brinquedo novo, e o texto me ajudou a refletir sobre isso!
    Suspiros...
    bjO!

    ResponderExcluir
  8. Na verdade esta é a melhor parte do texto para mim:


    "E a grande conclusão foi que a questão não é mais de ser BDSM, Baunilha, isso ou aquilo. A verdade é que existem as pessoas elevadas que percebem a existência dos Universos além do fetiche e tem a estrutura mental necessária para transitar por eles."

    Parabéns de novo!!!!!!!!!!!!

    Bruma Avalon

    ResponderExcluir
  9. Anônimo1.9.10

    Saudações, Sr


    O texto é Completo, analitico e profundo...

    Uma cartilha, com lições e ensinamentos.

    Adorei, Sr. GM.

    ResponderExcluir
  10. Buenas Noches nobre Glaudis,

    Brilhante e oportuno texto!Ainda mais que atualmente, vejo muitas pessoas querendo praticar o BDSM de maneira superficial.Sou blogueiro http://marquesdecampinas.blogspot.com vai ser uma honra ter o nobre como leitor e seguidor.

    Saudações SM,
    Marquês de Campinas

    ResponderExcluir
  11. Excelente viagem introspectiva.

    Boa leitura para aqueles que acham que só existe uma verdade, uma lei a seguir....

    Os horizontes existem, estão ao nosso alcance, só não enxerga quem não tem capacidade de vê-los ou não deseja abrir os olhos para a realidade.

    Beijos carinhosos e respeitosos,

    ÍsisdoJun

    ResponderExcluir
  12. Sr Gladius,
    tenho lido seu blog há algum tempo, e tem me ajudado a compreender muitas coisas e a fazer outros questionamentos. Por isso, obrigada por compartilhar sua experiência e sua sabedoria.
    Quanto a este texto, é realmente impressionante o upgrade se compararmos com o texto de 2007, no qual, se não estou enganada fala pela primeira vez no BDSM como parque de diversões. Ainda estou engatinhando pelo parque,e olhando maravilhada para a montanha russa, mas penso que chegar a um ponto em que podemos compreender os vários caminhos que a vida nos apresenta e poder escolher com clareza, respeito e cuidado é algo fabuloso que faz com que nada seja mais o mesmo e que as coisas realmente importantes tenham o valor adequado na nossa vida.

    Mais uma vez obrigada por compartilhar seus pensamentos.
    Respeitosamente.

    ResponderExcluir
  13. Sir GLADIUS MAXIMUS, passeando por blogs me deapro com esse interesante texto seu, fiquei tão compenetrada na leitura que não vi o tempo passar, e chegou a hora de sair do trabalho..o que fazer? colei seu link em meus favoritos pra terminar e assim poder apreciar sábias palavras de um Sir que conhece o que diz.

    Beijinhos.stacey.se puder visita meu cantinho.

    ResponderExcluir
  14. O meu segundo passo rumo nesse mundo está sendo dado em seu blog. Devo me considerar um afortunado por encontrar "nesse mundo" seres dotados de inteligência e visão tão distintas. Inteligência e visão que sempre tentei identificar em outros seres do mundo baunilha e,raramente encontrei. Estou surpreso. Teria encontrado nesse mundo a identidade que busquei em outro? Vou fazer meu caminho, descobrir e tomar posse de meu destino.
    Grato Master Gladius, por um pouco de esperança.

    ResponderExcluir
  15. Adorei tudo que li até agora. A partir de hoje, estarei t seguindo e desfrutando de seus textos tão bem desenvolvidos e escritos.

    ResponderExcluir
  16. Anônimo28.9.10

    Texto perfeito que estou tendo a honra de ler agora.
    A evolução realmente amplia nossos horizontes para que sejamos capazes de vislumbrar o quão infinito são os caminhos e como caminhar neles sem atropelos ou dúvidas.
    O BDSM tem me levado a uma viagem muito além do que poderia vislumbrar a primeira instância, leva-me a uma busca por essa evolução de forma ordenada e consciente.

    Saudações,
    § cristal §

    ResponderExcluir
  17. Anônimo28.8.12

    Sempre aprendendo...
    Sempre me deliciando e através da leitura de seus textos...viajando pra o meu infinito particular...onde eu sou o que sou...e tenho orgulho de tudo!!!
    Façamos então muitos passeios ao parque e que esse passeios sejam sempre para a felicidade e deleite de de todos que se aventuram desde os brinquedos mais tranquilos como um carrossel...até os que tem coragem de enfrentar as bruscas subidas e descidas de uma grande montanha russa...
    Um belo dia!!!!
    Grata sempre!!
    Telma

    ResponderExcluir
  18. Anônimo28.8.12

    E a propósito...estava lendo suas frases e encontrei o seguinte " Estou de saco cheio de ouvir que Dominadores são pedantes, mal educados, grosseiros e ignorantes. Nenhum dos cinco que conheço é assim. GM"...Achei muito espirituosa e divertida sua colocação...mais confesso que fiquei preocupada...rs...São tão poucos assim?

    telma

    ResponderExcluir
  19. Anônimo22.10.12

    Tudo que posso dizer é UAU!!!

    ResponderExcluir
  20. Gostei demais de todos os seus textos, principalmente desse, sou uma "hotwife slave" se é que teria algum nome para isso.

    Tenho uma natureza submissa e estou no meio liberal há cinco anos com meu marido. Já passamos por muitos "universos" até chegarmos aqui e entendermos o que realmente gostamos e somos. Ele é naturalmente dominante, mas tem um lado que se identifica em ser Cuckold e esse é seu maior desejo, que eu seja uma HOTWIFE independente e determinada, mas nunca consegui ter qualquer atitude que me levasse a isso. Sempre espero que ele tome a iniciativa. Eu gosto demais de estar com outros e esse universo Cuckolding é mágico para mim, mas sonho com o dia em que ele me colocará uma coleira de verdade!!!!

    Decidimos viver nos dois universos, ter um estilo nosso. Daí o termo Hotwife/Slave...

    E a cada dia me descubro mais submissa e entregue a esse universo BDSM. Por isso seu blog me chamou tanta atenção e de certa forma me emocionou muito.

    Gostei tanto do seu cantinho que não resisti e levei ele comigo para o programa dessa semana e também vou levar esses seus textos sensacionais lá para casa!!!!

    Um beijão quente e molhado

    Carol

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Anônimo14.12.15

      Adorei o termo hotwife. Essa sou eu. Só falta meu marido compreender que sou uma mulher de tendências submissas para que eu peça para ele se tornar um dom. Não tenho coragem de entrar num relacionamento aberto, apesar de eu entender que carne e coração são coisas distintas... ele jamais aceitaria abrir o casamento.

      Excluir
    2. Carol

      Olá... desculpe a demora na resposta... andei afastado... mas estou de volta.

      Relato interessante esse seu. Hotwife/Slave é uma combinação de termos que deve resultar numa química explosiva. A mente aberta à novos universos de relações afetivas e possibilidades, deixa tudo mais fácil e deve manter a rotina desse casal muito intensa.

      Agora fique tranquila... posse e submissão não tem anda a ver com uma coleira e sim com sentimento e comportamento. Se você se sente possuída, todo o resto é menso importante.

      Fico feliz e envaidecido pelo elogio ao "meu cantinho" e eu gostaria de ver esse programa onde fui mencionado.

      Excluir
  21. Troca divulgação de blog?
    A uns meses ando lendo seu blog assim como outros a respeito. Estou escrevendo um livro para quem deseja ser iniciado dentro do bdsm. Se assim me for permitido passo o link. E meus parabéns pelo blog

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Tenho uma lista no final da coluna da direita específica para isso. É recente e vou colocar ali, preferencialmente material que tenha algum alinhamento com o Universo BDSM e proximidades. Também só com Blogs e sites que sejam de bom gosto e que primem pela qualidade de conteúdo, afinal de contas, o nome do meu estará neles.

      Mande o que quer divulgar e também como o meu vai aparecer pelo Email... vou avaliar com carinho e responder diretamente.

      diariodeumdominador@gmail.com

      Feliz por ter gostado e se precisar de alguma informação, pode usar também o Email do Blog.

      Excluir
  22. Dom. Zeniu24.7.20

    Sr. Gladius foi um prazer ler esse texto que em 2020 condiz com muito do que vivo, é fato de que se formos falar de multiversos cada pessoal cria um próprio a partir do momento em que decide se desprender do mundo baunilha, mas de alguma forma estes microversos continuam sendo regidos por regras e protocolos gerais, adaptativos ou não.

    Muito obrigado por compartilhar.

    Grato, Zeniu

    ResponderExcluir

Tecnologia do Blogger.