Dona Helena era uma senhora que morava no bloco B do prédio, e um acontecimento a envolvendo me motivou a escrever este texto. Eu residia no apartamento número 1, no térreo de um pequeno edifício sem garagem. Os quartos ficavam de frente para a área comum do prédio, mas fora da visão de quem passava pelo corredor de acesso.
Um dos meus hábitos era, ao retornar para casa após a academia, tomar banho e, em seguida, ir para o meu quarto ainda de toalha. Eu ligava o meu equipamento de som, ficando ali curtindo enquanto me secava e me vestia.
Certo dia, enquanto eu estava lá me secando, Dona Helena se debruçou na minha janela e soltou a frase: "Você está nu". Eu nem imaginava que essa frase ecoaria na minha cabeça, servindo até os dias de hoje para descrever um tipo de comportamento bizarro do ser humano.
Ahhh... Não estou falando de ouvir música nu. Falo sobre esse hábito que alguns humanos têm de se intrometer e criticar a vida alheia.
É algo que nos acompanha desde sempre. Quem nunca teve uma pessoa fofoqueira na vizinhança? Mas essas nem são as piores, pois sobre elas sempre disse que "só cuida da vida dos outros a pessoa que não tem uma vida interessante". As piores são aquelas que elevam esse "cuidado" para outro nível.
Elas fazem parte do grupo dos perseguidores (stalkers) e também dos que odeiam (haters), sempre fazendo movimentos meticulosamente planejados para provocar danos nos alvos. É curioso, mas também importante destacar que entre eles ocorre algo comum no ser humano, que é o efeito de manada, onde se agrupam para alvejar quem, de alguma forma, os incomoda.
Este texto não tem o objetivo de analisar os motivos que levam essas criaturas a se comportarem dessa maneira, nem fazer um juízo de valor sobre desvio de caráter, índole ou problemas psicológicos desses indivíduos. Serve apenas para refletir sobre esse comportamento.
O que me faz lembrar da frase: "E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos por aqueles que não podiam escutar a música", atribuída ao filósofo Friedrich Nietzsche (sem fontes que confirmem essa autoria), reflete muito da realidade de quem já transcendeu de patamar em relação aos que ainda não o fizeram.
Ao refletir, percebo a inexistência de razões visíveis e palpáveis para despertar a fúria daqueles que disparam críticas ofensivas e invariavelmente vazias. Na minha perspectiva, o que resta para explicar esse ódio está em dois fatores:
1. A simples existência do alvo, junto com seu estilo de vida e o que ele representa para uma comunidade
2. Um discurso/conteúdo que colide frontalmente com as convicções de quem odeia (daí as brigas comuns na família ou entre amigos por causa de política, por exemplo).
Se existe alguém que consegue ser (ou viver) em um nível acima da média, essa pessoa se destaca, elevando o patamar de excelência e, para a maior parte da comunidade, se transformando na referência de um "novo normal" a ser atingido. Para os odiadores, esse "novo normal" é apenas uma prova cabal de sua mediocridade.
A questão do discurso é mais simples, pois vai incomodar o odiador que se apoia em ideias construídas apenas para distorcer a realidade de forma que seus atos e palavras façam sentido.
Tanto em um caso quanto no outro, na falta de qualquer condição de avançar evolutivamente, os odiadores vão trabalhar incansavelmente usando todos os meios ao seu alcance, como mentiras, intrigas e demais formas de sabotagem. Por um lado, para diminuírem os seus alvos, e por outro, para sustentar sua máscara.
Enfim, toda essa reflexão não passa de um apelo à razão, no sentido de fazer com que esses odiadores entendam que a disputa correta é consigo mesmos, almejando a cada momento ser uma pessoa melhor do que a pessoa do momento anterior. Lembrem-se de que a boa crítica é a construtiva... melhor ainda é a autocrítica.
Ficar atacando quem representa um nível que não conseguem atingir é uma espiral negativa e sem saída. Além de gastar uma boa energia em um processo ruim, não vai mudar nada na vida de quem já avançou, pois, para essas pessoas, o que vem de baixo não as atinge.
Em tempo... minha resposta para Dona Helena quando ela disparou o "mas você está nu" foi dada de forma calma e simples: "Estou nu sim... Estou na minha casa, e é a senhora que está olhando para a minha janela". A moral dessa história é: se a existência de algo dentro de uma janela realmente te incomoda, simplesmente não olhe. Busque janelas que te agradem, enriqueçam e te deem prazer.
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Caro Gladius,
ResponderExcluirSe escutá-lo já é um deleite, se vê-lo já fustiga minhas retinas e se lê-lo transborda-me em satisfação, o que dizer desta cinestésica experiência de imaginar a cena descrita?
Mas tudo isso para também concordar e refletir em como é raso o pacto da mediocridade firmado pelos homens médios!
A liberdade segue a autenticidade. E saudações a quem tem essa coragem!