' POLIGAMIA NO B.D.S.M. - DIÁRIO DE UM DOMINADOR - GLADIUS | BDSM, Fetiches e Relacionamentos

POLIGAMIA NO B.D.S.M.



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Texto revisado que faz parte da obra DIÁRIO DE UM DOMINADOR - CRÔNICAS - LIVRO 1, de cortesia acompanhado com as notas de atualização do autor que estão presentes apenas no livro junto dos outros textos do Blog publicados.


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POLIGAMIA NO B.D.S.M.

Publicado em 13/10/2008

NOTA DO AUTOR
Aqui eu fiz a estreia dos temas “dedo na ferida”. Se já não achava material consistente sobre filosofia de vida BDSM, imagine então material sobre temas mais sensíveis.
A questão aqui era que existia (e ainda existe) um pensamento errôneo de que homens vêm para o BDSM pela possibilidade de ter várias parceiras de forma lícita.
Não que isso não ocorra, mas estes estão incluídos na lista das pessoas potencialmente perigosas (Red Flags) junto com todas as criaturas que vem para o BDSM para qualquer outra coisa que não seja para viver interações e relações com jogos de poder.
O fato de que qualquer um no BDSM pode ter múltiplas relações é verdadeiro e é um erro presumir que apenas homens (dominantes) desfrutam deste benefício, pois qualquer, um tanto menino ou menina (ou outros), sendo dominante ou submisso, pode fazer parte de relações com vários participantes.
Quem vem para o BDSM pelos motivos certos, o faz para viver a sua natureza Dominante ou submissa de forma plena, se alimentando nesse processo do néctar que advém da dinâmica da hierarquia.
Se isso vai ocorrer a dois ou em grupos maiores, seja lá em qual combinação de gêneros, isso já é por conta dos participantes.

Misturar as estações é o que acontece de mais comum em mentes confusas.

Calma, essa confusão pode ocorrer com qualquer um em algum momento e é bem comum embolar o meio de campo por influências externas. 

Não se precisa ter a mente fraquinha para isso e uma das misturas mais comuns é de se distorcer a visão da poligamia dentro do universo BDSM.

O significado que aparece nos dicionários deste substantivo feminino é a união conjugal de uma pessoa com várias outras e que pelo ponto de vista da sociologia é costume socialmente aceito em certas sociedades que permitem esse tipo de união.

Até aí tudo bem, mas não é bem aí que a coisa enrola. As pessoas (principalmente as mulheres) tendem a associar a poligamia a um comportamento masculino. Então vamos começar separando o assunto em partes para examinar com cuidado todos os pontos de vista.

Em primeiro lugar, começo citando o eixo de pensamento do Livro “Por que as mulheres fazem amor e os homens fazem sexo” de Barbara e Allan Pease: “Somos bichos diferentes”. 

Vou citar também a frente alguns fatos do livro. Para mais detalhes, leiam. No mínimo vão se divertir um bocado diante das situações cotidianas e absolutamente cômicas que o livro usa como exemplos.

E por qual motivo as pessoas se confundem?

Os homens, em sua maioria são sim polígamos, ou melhor, de comportamento poli afetivo, como prefiro falar.

Para explicar esse comportamento recorrente devemos encarar a questão, a princípio, pelo ponto de vista puramente biológico e evolutivo. 

Fica difícil ir contra uma natureza que levou centenas de milhares de anos evoluindo.

Desde os primeiros hominídeos, o comportamento padrão era a formação de grupos familiares, com um macho e uma fêmea alfa (dominantes), onde só o macho alfa procriava e os “meninos” assim que se aproximavam da idade de procriação eram sutilmente convidados a ir formar seu próprio grupo familiar.

Existe também um ponto de vista sociológico. Os seres humanos sempre foram beligerantes, ou seja, inclinados a uma boa briga e o motivo invariavelmente era por recursos e território e a poligamia era incentivada pelos governos e pela razão mais lógica e óbvia. 

O que acontecia era que os homens iam para as guerras e nem todos voltavam. Duas coisas aconteciam: por um lado sobravam mulheres sem marido e de outro esse povo tinha que ter mais futuros soldadinhos garantidos para o futuro. Aí, o estado tratava de agrupar as viúvas em torno dos soldados sobreviventes. 

Hoje em dia se briga por religião, esportes, política e para não se manter o lado primal, se briga pelas fêmeas. 
Então, evoluímos como civilização de forma muito rápida atropelando a nossa natureza mais primitiva, fazendo com que esse comportamento de um macho ter várias em específico do macho ter várias parceiras, fosse suprimido ou levado adiante de forma velada.

Monogamia é um comportamento meio recente na história. Herdamos isso das religiões judaico-cristãs segundo o livro que citei anteriormente e pelas mesmas afirmações anteriores justifica-se o fato das mulheres, em sua maioria, serem monógamas. 

O que ocorre com elas é algo que uma amiga chama de “monogamia sucessiva”.

De forma geral, uma mulher se dedica a um homem por vez e é a ele que ela dedica a sua atenção, mesmo que esse tenha outras. 

Isto posto, posso continuar a examinar a questão da Poligamia no BDSM sob a ótica correta que não tem absolutamente nada a ver com tudo o que eu escrevi até agora. 

Falei tanto por dois motivos: 

Por um lado, eu queria mostrar qual é a visão geral da poligamia, que é baunilha (relação convencional) e que vem para o BDSM junto dos indivíduos que ainda não entendendo direito como as coisas acontecem, trazem os fundamentos que conhecem, pois já que estão acostumados com eles, sentem menos dor.

Por outro, discorri sobre o tema de forma a já bloquear essa tentativa de intrusão no BDSM deste fundamento distorcido, mostrando que mesmo no Universo Baunilha ele já não tem sentido, pois neste mesmo Universo Baunilha quando a monogamia ocorre, são criadas tantas tensões internas que para se evitar o colapso e se manter a relação estável se faz necessário lançar mão de artifícios como mentiras, hipocrisia, dissimulação, conformismo etc.

E justamente são esses artifícios que não combinam com o Universo BDSM que só funciona bem (ou pelo menos deveria), com todas as cartas na mesa e com todos vivendo de acordo com suas naturezas. 

Reafirmo, Poligamia no BDSM não tem nada a ver com o que escrevi até agora porque a visão que se tem é que a poligamia é um desvio de comportamento masculino, e não acredito que seja pelos argumentos que coloquei anteriormente, e neles, o que percebi é que a monogamia masculina é o desvio de comportamento preocupante.

NOTA DO AUTOR
Nesta época eu tinha uma visão mais extremista e achava que todas as relações do Mundo Baunilha, ou seja, namoro, noivado, casamento etc. não funcionavam sem coisas como mentiras, hipocrisia, dissimulação, conformismo.
Isso mudou na minha cabeça... e muito.
Ainda creio que em sua grande maioria as relações baunilha são artificiais e fadadas ao colapso, mas percebi que os motivos que levam uma relação ao colapso, seja ela qual for, se situa na região das afinidades e isso faz que nenhum tipo de relação seja imune ao fracasso, BDSM inclusive.
Vejo hoje que existe uma conexão entre humanos que transcende a tudo, formando parcerias perfeitas em qualquer tipo de relação afetiva.

E agora o golpe com o chicote de três metros. 

No BDSM não pode existir essa visão de que os homens isso e as mulheres aquilo, pois não é assim que esse Universo se polariza (ou pelo menos não deveria se polarizar). 

No BDSM não são homens de um lado e mulheres do outro... são entre Dominantes e Submissos, interagindo... e ponto.

Então, falar que os homens vêm para o BDSM para poder ter muitas mulheres não é correto. O correto é dizer que uma pessoa vem para o Universo BDSM para viver a sua natureza primal dominante ou submissa, com quantas pessoas quiser.

Pessoas na condição de dominante podem ter quantos parceiros submissos quiserem, ou melhor, puderem, ou melhor ainda, merecerem... ah... tem mais uma... derem conta.

Uma das leituras fundamentais do BDSM é a abordagem de que esse universo é formado de pessoas que gostam de ser objetos e pessoas que gostam de usar estes objetos em formato de pessoas.
 
Um usuário de objetos pode possuir quantos objetos conseguir conquistar, guardar e manter. Logo, no BDSM a "poligamia" não é privilégio dos Homens e sim é uma das características do ser dominante que vai ter quantas relações quiser, puder, merecer e der conta... pode ser uma como pode ser dez.

Então também é polígamo um Dominador de Homens que tem vários escravos? Também é polígama uma Domme que tem escravos e escravas? Uma Switcher então que tem Dona de um lado uma escrava e dois escravos do outro?

Sim... os dominantes são polígamos, mas apenas pela visão estreita e meio turvada dos Baunilhas. Dentro do BDSM, os dominantes, assim como os submissos e Switchers, são apenas o que são, pessoas vivendo de acordo com as suas naturezas e interagindo com parceiros que aceitem consensualmente essa sua natureza. 

Nada contra Dominantes que prefiram ter uma só posse. Isso acontece... e não é raro. Mais raro é encontrar dominantes verdadeiros em meio ao que se vê por aí.

NOTA DO AUTOR
Nesta época já percebia o imenso desequilíbrio quantitativo entre dominantes e submissos, me ressentindo da falta de dominantes consistentes.

Quem viveu ou vive isso sabe do que eu estou falando, é forte demais. 

Às vezes não existe tempo para se dedicar a outra posse. 

Alguns até passam períodos longos sem relações de elo forte pelo puro e simples fato de não existirem os parceiros adequados ou que por motivos outros não dispõem de tempo para uma relação dessas, então ficam apenas brincando enquanto nada de melhor acontece.

O mais importante sem dúvida repito, é nunca se perder a perspectiva de que o número de parceiros, uma, duas, dez ou nenhuma, quem limita é o dominante (e a sua capacidade/competência de manter mais de uma pessoa em sua órbita), nunca a parte que se submete, cabendo a esta apenas aceitar fazer parte do reino quando de acordo com as suas regras.

Enfim, alguém só vai ter apenas aquilo que tiver direito, merecer e cuidar (ou seja, der conta), e mais, qualquer tipo de relação fica válido se as partes, sejam lá quantas forem, estiverem de acordo de forma consensual

NOTA DO AUTOR
E algo que sempre bom lembrar é que na forma da lei o temos poligamia não existe, existindo apenas bigamia. No Código Penal temos:
Art. 235 - Contrair alguém, sendo casado, novo casamento: Pena – reclusão, de dois a seis anos.
§ 1º – Aquele que, não sendo casado, contrai casamento com pessoa casada, conhecendo essa circunstância, é punido com reclusão ou detenção, de um a três anos.
§ 2º – Anulado por qualquer motivo o primeiro casamento, ou o outro por motivo que não a bigamia, considera-se inexistente o crime.
Quando se fala em contrair casamento, leia-se casamento civil ou no cartório estando isento dessas punições o casamento no religioso, simples traição e a união estável.
Logo, o termo poligamia é apenas uma forma de se descrever um comportamento que seria melhor entendido como poliafetividade, ou seja, a tendência ou preferência de se interagir com mais de um parceiro, comportamento este geral e não limitado a apenas o gênero masculino.

MASTER GLADIUS

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POLIGAMIA NO B.D.S.M. POLIGAMIA NO B.D.S.M. Reviewed by Gladius on janeiro 01, 2024 Rating: 5

8 comentários:

  1. Onde eu assino??Excelente Gladius,discorreu de forma lucida e brilhante um assunto que poucos compreendem dentro do meio bdsm.abraço.WZ

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  2. http://maestroalexbdsm.blogspot.com/2008/10/amigo-gladius-maximus.html#links

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  3. Um presente essa abordagem sensata e coerente... Há que se viver de essência no BDSM... simples assim.

    Flores e meu respeito.
    {myrah}_ALDO

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  4. Por que esse assunto me deixa assim curiosa? Parece tão assustador, mas me seduz... Creio que algo habita aqui dentro que desconheço..

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  5. Para Mariana

    Querida...

    antes de mais nada desculpe a demora na resposta, mas andei afastado e só agora, depois de muito meditar, estou voltando a olhar para o meu Blog.

    O que acontece com você nesse momento da sua vida é muito simples. Você está transcendendo. Está acontecendo algo nesse momento da sua vida, sobre o que estou escrevendo um post nesse momento. Você não está cabendo mais na concha que o está ocupando e o pouco espaço está começando a te incomodar.

    Você está num ponto onde tudo o que você vê e vive agora não te bastam mais e, mesmo sem saber pra onde, você sente uma necessidade irresistível de se mover, de ver o que existe além desse horizonte.

    Tudo o que vem pela frente parece assustador, mas apenas é algo que você desconhece.

    O que te recomendo é que se mova devagar... dando passos pequenos e firmes... tateando e aprendendo... o que vai achar no fim, é a sua verdadeira natureza, que você deve viver de forma profunda e intensa.

    G.M.

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  6. Anônimo6.12.10

    Oi, achei seu blog por acidente.
    Só gostaria de dizer, que a monogamia não é judaico-cristã, os judaico-cristãos eram a favor da poligamia como você descreve, o que aconteceu foi que a cultura romana mais ou menos na época de cristo era monogâmica, e conforme o catolicismo se "fundiu" com a cultura romana, eles adotaram a monogamia.

    Mas se você ler a bíblia, a norma é a poligamia, aliás tinham até leis do tipo que você cita no artigo com relação a guerras, na bíblia tinha uma lei judaica onde quando uma pessoa casada morria sem deixar filhos, a esposa tinha que casar com um irmão do morto, para garantir que o morto tivesse filhos.

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  7. Anônimo4.7.11

    excelente o livro Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor? li, reli, recomendo sempre quando posso pra muita gente rs, e maravilhoso texto, fico até sem comentários maiores diante de tanta clareza na exposição de suas ideias, mais uma vez meus respeitos ao SR

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